Economia brasileira: um condomínio que necessita de síndicos responsáveis
"Nos próximos meses, teremos uma lua de mel entre o novo presidente e a sociedade, fruto de uma percepção de melhor responsabilidade com o gasto público"
Os últimos anos da economia brasileira são para serem esquecidos por seus resultados, porém não pelos aprendizados que devemos fazer sempre com nossos erros. Nunca é demais comparar o país com um grande condomínio onde, ao final, a conta será distribuída entre os condôminos.
Para ficar no exemplo de um condomínio, imagine o seu, onde o síndico tem plena liberdade para gastar o que bem entender e, ao final de cada mês, lhe apresenta uma conta crescente. Chegará o momento em que o síndico terá que ser destituído, porém as contas ficarão.
Nos últimos anos, fomos administrados por síndicos perdulários que nos legaram anos difíceis pela frente até que o novo responsável equilibre as contas. Cortes de gastos terão que ser feitos até que receitas e despesas se equilibrem. Os síndicos anteriores tinham por hábito aumentar as despesas e, depois, ampliar suas receitas, via impostos. Hoje, os condôminos não têm capacidade de pagar mais, fruto da recessão e do desemprego.
Síndicos responsáveis também sabem que não adianta vender bens dos condôminos e continuar gastando mais do que esses podem pagar; em um primeiro momento até engana, porém mascara e posterga um enfrentamento real.
Hoje, temos uma mensagem correta de encerramento do ciclo de expansão do gasto público e busca de um equilíbrio fiscal permanente, difícil, e uma arrecadação vitimada pela recessão.
Se o equilíbrio fiscal é clara obrigação, o processo de privatizações é mais complexo do que parece. A extinção ou venda de estatais deficitárias e sem função social ou econômica e que dependem de recursos públicos se justifica; mas também não valerão muito quando vendidas. Porém, existem outras, lucrativas e com função social ou econômica, que poderão ser privatizadas e são as que podem valer; estas terão que ser bem discutidas.
Nos próximos meses, teremos uma lua de mel entre o novo presidente e a sociedade, fruto de uma percepção de melhor responsabilidade com o gasto público. Porém, um dia, a lua de mel terminará e a vida seguirá. Antes da lua de mel, temos boas notícias para a economia, como um câmbio e uma inflação comportados, os juros em baixa e a bolsa de valores batendo recordes. Voltamos a crescer.
Até quando irá esta lua de mel? Pedra de toque será a aprovação da reforma da Previdência, sem a qual a conta fiscal não fechará. Seu encaminhamento precisará ser feito ainda no primeiro semestre de 2019, sem o que os indicadores econômicos poderão ser comprometidos e correremos o risco de uma frustração das expectativas.
Por: Rodrigo Hingel, Economista
Fonte: Gauchazh Opinião