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17/09/2020

Entra a máscara de proteção, cai a da hipocrisia.

Entra a máscara de proteção, cai a da hipocrisia.

Continuo diariamente indo trabalhar no condomínio comercial do qual sou síndico, que é integralmente formado por empresas da área de saúde. Importante para manter a moral da tropa em alta, com tanta instabilidade e incertezas.  

 

O Distrito Federal foi a primeira unidade da federação a impor medidas de restrição às atividades comerciais. Desde o primeiro dia do anúncio, programamos no condomínio medidas operacionais e de redução de custos que terão reflexos nos próximos meses, inclusive com a diminuição do quadro de colaboradores. Ao mesmo tempo projetamos que a inadimplência iria crescer. Em que pese o fechamento temporário de algumas empresas, as atividades operacionais do condomínio são essenciais e, portanto, permaneceram em funcionamento. Dentre eles, estão os serviços de portaria, limpeza de áreas comuns, recolhimento de lixo comum e hospitalar, segurança, manutenção de máquinas e equipamentos e parte administrativa. 

 

Várias são as instruções e recomendações dadas ao longo da atual pandemia, que muitas vezes são conflitantes entre si: Use álcool em gel nas mãos, mas cuidado ao cozinhar. É grave a doença. É uma gripezinha. Viva o político X! Derrubem o Z! Hospitais estão abarrotados! Não estão vazios! Eleve a taxa de condomínio para aumentar a intensidade e frequência das limpezas e poder arcar com a compra de novos produtos de proteção e procedimentos de desinfecção e faxina em conformidade com a nova legislação local aprovada às pressas. Reduza a taxa para compensar a diminuição de atividades econômicas e conter focos de revoltas populares. Fique em casa! Queremos voltar ao trabalho! Muitos dilemas. 

 

Em outros condomínios, os descolados apartamentos dormitórios de 20(vinte) m2, com grandes áreas de lazer, de uma hora para outra viram o local onde muitos passam integralmente sua vida pessoal e profissional. Esqueça a academia, a piscina e os pontos de convivência, pois estes estão fechados. Decisões acertadas do judiciário proibiram obras não essenciais em respeito aos vizinhos em isolamento social que estavam tendo que conviver com o barulho e sujeira. No entanto, muitos acham que a sua obra sim, deve seguir. Por outro lado, um apartamento grande pode se tornar um estorvo em razão de seu alto custo de manutenção e diminuição dos trabalhadores de apoio. Famílias felizes, em convivência constante, passaram a ser palco de conflitos. Baixo equilíbrio emocional. O vizinho que sempre esbanjou suas viagens nas mídias sociais e seu carrão do ano na garagem não se planejou financeiramente para um curto (ou indefinido) período de dificuldades, reflexo de reduzida educação financeira.  

 

Especialistas em condomínios: arquitetos, síndicos, corretores de imóveis, advogados, contadores, engenheiros também entraram na moda das “lives” promovidas por artistas. Manuais gratuitos diversos sobre limpeza, direito, dicas para home-office, atividade física em casa, finanças, bricolagem etc foram produzidos. Grande parte de alta qualidade e de utilidade pública. Alguns poucos só autopromoção. Grupos em whatsapp pegando fogo. Tanto material, tanto conteúdo que devemos selecionar bem o que assistir ou ler.

  

Em nosso prédio, aproveitamos o fluxo menor de pessoas e carros, para promover manutenções estruturais, demarcações de vagas externas e limpeza de vidros internos- além de outras ações.  No que tange o pagamento de taxas ordinárias, informamos aos que procuraram a administração do condomínio, ou nossa contabilidade (apesar da total falta de poder legal da empresa para ingerências diretas no tema)  que os síndicos ou síndicas, NÃO têm autonomia para baixar/aumentar as taxas baseado em índices econômicos ou redução/avanço de atividades comerciais “por uma canetada”. Estas mudanças requerem a realização de assembleia. Boa parte foi compreensiva, e pontualmente colocações desagradáveis foram feitas, cabendo a nós (condomínio) empatia em momento único de dificuldade e falta de esperança. Pessoas que nunca se manifestaram sobre qualquer tema interagem em busca de ajuda ou clamando por providências imediatas. Leis recentemente aprovadas no tocante a condomínios em suma, autorizam  limitar acessos e fechar áreas de lazer e equipamentos para evitar a disseminação da atual pandemia.   

 

A taxa de condomínio não pode ser reduzida mediante negociação, como ocorre no caso de aluguéis. Frequentemente, ouço reclamações genéricas de que a taxa está alta, que há outro condomínio com taxa mais barata ou que as despesas devem ser reduzidas. As cotas condominiais são basicamente a soma da previsão de despesas daquele empreendimento dividida pela fração ideal dos apartamentos/casas/salas/vagas autônomas, reservando uma pequena parte do valor para imprevistos. Aspectos diversos compõem a estrutura de custos e receitas: tempo da construção (e sua respectiva manutenção com o envelhecimento da edificação), quantidade de elevadores, gás e água inclusos ou não, quantidade de funcionários, gerador de energia, demandas judiciais, rendas extraordinárias com aluguéis de depósitos, área de lazer, vagas de garagem, antenas de telefonia, reuso de água de torneiras e chuva, geração de energia solar, promoção de eventos dentre outros. A quantidade de unidades para dividir a conta é relevante também. Ouvi que determinados empreendimentos no DF conseguiram reduzir em 50% as taxas. Qual é a realidade financeira daquele prédio? É de fato um condomínio ou complexo comercial de um único dono como são os Shoppings? Seu síndico tomou a decisão amparada pelo quê? Destinou um fundo de obras formado durante anos para pagamento de taxas ordinárias? Tecnicamente pode haver erros graves.  

 

O maior desafio dos gestores condominiais na minha visão é manter a serenidade e profissionalismo com tantas novas variáveis. Finalizo, com a certeza, de que à medida que os trabalhadores, clientes e pacientes voltem a frequentar nossas dependências encontrarão um cenário melhor que em sua última visita. 

 

Fonte: Portal Administradores.com


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